A má sorte dos talha-mar e trinta-réis

Parece clichê. Ou melhor, é. Mas a natureza tem seus caprichos e muitas vezes parece cruel e injusta. Também pode ser a mão do homem contribuindo para a mudança do clima e suas consequências, diriam outros.

O fato é que, depois de terem seus ovos comidos pelos gaviões caracarás – os famosos carcarás eternizados na voz de Maria Bethânia (“pega, mata e come”), no início da primavera de 2014, as fêmeas de talha-mar e trinta-réis-grande e pequeno resolveram se prevenir e mudaram totalmente a estratégia. Botaram os ovos na parte baixa da praia, bem mais próximos da margem do rio Negro, na área rural de Aquidauana, no pantanal sul-mato-grossense.

Cristina Rappa

Filhote de talha-mar em praia de rio

Talha-mar e trinta-réis são espécies de aves que habitam praias de grandes rios na Amazônia e no Centro-Oeste, e são normalmente confundidos com gaivotas. Costumam fazer ninhos em colônias, escavando um buraco na areia nessas praias no período da seca, quando as águas estão baixas e o calor é forte. A captura dos ovos pelo homem e sua predação por aves de rapina costumam ser as maiores ameaças a essas colônias.

Não é que a chuva adiantou neste ano e um aguaceiro fora de hora, no início de setembro, fez com que o nível do rio subisse, inundasse a praia e levasse embora os ovos? Mais um ano perdido. Que tristeza!

Como boa parte dos animais gosta de uma rotina e do seu lugarzinho preferido, os três casais continuam sua rotina de pesca, banho de sol e namoro na mesma praia do rio Negro.

Trinta reis acasalandoEntre os casais, a mais escandalosa é a fêmea do trinta-réis-grande, que fica gritando para o macho, como que pedindo peixe ou chamego. Paciente, ele, após suas voadas, traz comida na boca dela, a acalma e acasalam. Um ritual que se repete várias vezes ao longo do dia. Mas que neste ano não dará frutos, pois ovos, só uma vez por ano. Boa sorte em 2016, pessoal!