Sobre corvos e outras aves com fama de bravas

Quem me acompanha em viagens ao hemisfério norte e locais de clima temperado já sabe: sou fascinada por corvos. O grasnar dessas aves muito comuns nesses locais me hipinotiza. Além disso, as acho muito sociáveis e simpáticas.

Tem gente que discorda e a má impressão causada por esses animais – que são, na verdade, bastante inteligentes e tem capacidade de memorizar e repetir palavras feito um papagaio, mostraram estudos – tem origem em superstições seculares em diversos países, em que se acreditava que corvos eram a encarnação do mal e portadores de maus presságios, possivelmente pela plumagem escura e por alguns serem necrófagos. Os urubus também não têm boa fama pelos mesmos motivos.

O escritor Edgar Allan Poe e o cineasta Alfred Hitchcock, entre outros artistas, souberam aproveitar bem esses mitos que acompanham essas aves.

Em viagem neste janeiro às montanhas do Colorado, nos Estados Unidos, avistei e fotografei muitos corvos. Nada tímidos, com a confiança de quem sabe que ninguém vai ameaçá-los, eles se concentravam nas cidades, em árvores, telhados e postes, e pareciam conversar, entre eles e com as pessoas. Bom, eu queria acreditar que conversavam comigo também.

ORG XMIT: S11ABC5EB_WIRE (FILES) File picture taken in 1963 shows British film director Alfred Hitchcock (1899-1980) during the shooting of his movie 'The Birds'. Hitckcock directed his first film in 1925 and rose to become the master of suspense, internationally recognized for his intricate plots and novel camera technique.  Hollywood will celebrate 13 August 1999 the centenary of Hitchcock's birth. AFP PHOTO FILES IMF25 09102004xMOVIES 10072005xGuidelive

Foto clássica de Hitchcock com uma gaivota e um corvo

E não é que enquanto estávamos lá uma noite passa na TV Os Pássaros, do Hitchcock? Nesse filme do início dos anos 1960 e baseado em conto de mesmo nome da escritora britânica Daphne Du Maurier (vim a descobrir depois, em pesquisa sobre o filme na internet), as aves, especialmente os corvos, passam a atacar os habitantes de uma pequena cidade na Califórnia. Assustador na época, apesar dos efeitos meio toscos comparados com os filmes atuais.

Hoje, com os “sexta-feira 13”, vampiros, zumbis, lobisomens e tudo o mais, ninguém se assustaria com a ideia de ser bicado por pássaros. E, para falar a verdade, tenho bem mais medo de gente de carne e osso do que desses tipos.

Versão brasileira dos corvos?

Cristina Rappa

O quero-quero é famoso pela valentia ao defender suas crias

Por falar em aves que são valentes em defender seu território e crias, neste mesmo verão, no carnaval, fomos para uma praia no litoral sul do Rio de Janeiro onde ouvia-se o alerta às crianças: “cuidado com os quero-queros, não chegue muito perto que podem vir te perseguir e picar a cabeça”.

Sim, quero-queros são aves bastante bravas em se tratado de defender seus filhotes e ninhos. Não costumam se intimidar com aves maiores, como rapinantes como os carcarás, nem mesmo com predadores como os gatos. Se Hitchcock tivesse vivido no Brasil provavelmente os teria incluído na turma de Os Pássaros.

A Biologia não inclui os quero-quero (Vanellus chilensis) na família dos corvos, a Corvidae. No Brasil, gralhas, como a do campo (Cyanocorax cristatellus), a azul (C. caeruleus), a picaça (C. chrysopse a cancã (C. cyanopogon) é que pertencem a essa família.