Jardinando e colhendo os frutos

Cristina Rappa

A associação de moradores do bairro onde moro em São Paulo, que faz parte dos chamados Jardins por se tratar de uma região mais arborizada que outras da megalópole, informa sobre um projeto de incentivo para que os moradores formem mudas de arbustos e flores para ampliar o reflorestamento de praças, ruas e rotatórias. Bacana a iniciativa. Até porque não dá para a gente ficar só esperando, reclamando da feiúra e poluição da cidade, e achando que o poder público vai fazer tudo. Não vai. Temos que ajudar a conservar, manter limpa, civilizada e verde a nossa cidade.

A jardinagem sempre me atraiu. Desde pequena sempre gostei de mexer com terra e plantar. Não era difícil me ver catando sementes em parques e praças, em diferentes locais, para formar mudas e plantar árvores no jardim de nossa casa em Jundiaí, interior de São Paulo, onde morei quando criança e adolescente, no jardim e nas calçadas ao redor da nossa casa e do escritório em São Paulo, ou na fazenda, em Arceburgo, sul de Minas.

Essa prática continuou ao longo dos anos e fui reflorestando com espécies nativas as margens dos açudes na fazenda, as áreas próximas à casa, o pomar e ainda formei uma alameda de oitis (Licania tomentosa), ipês roxos (Handroanthus impetiginosus) e abricots de macaco (Couroupita guianensis), entre outras espécies, no caminho de entrada da propriedade até a sede. Para embelezar, atrair passarinhos e fazer sombra quando chegamos dos nossos passeios de bicicleta pela montanhosa região. Quando essas árvores estiverem crescidas e florindo (algumas já estão), vai ficar tudo ainda mais lindo, sonho um sonho nada difícil de virar realidade.

Beija-flor-de-fronte-violeta nas flores

Beija-flor-de-fronte-violeta nas flores de plantio para atrair beija-flores, em Arceburgo

Cientes de que é preciso proteger as nascentes e ampliar as matas ciliares, para tentar evitar o aumento dos períodos de estiagem cada vez mais frequentes no Sudeste brasileiro, meu irmão e o administrador da fazenda têm reflorestado essas áreas. Com benefícios adicionais, como sombra para quem trabalha e para o gado, contribuindo para o seu bem-estar e ganho de peso.

Eu sempre me espantei, em viagens a Estados bem quentes, como Tocantins, Goiás e Mato Grosso, com a visão de pastos totalmente desmatados, e os pobres bois amontoados na sombra de uma única árvore, para se abrigar em situações de calor de mais de 40 graus. Não consigo chegar a uma conclusão se é ignorância ou falta de sensibilidade por parte do pecuarista manter uma situação dessas. Mas, como a consciência da necessidade da preservação ambiental tem aumentado, por questões pragmáticas, no setor do agronegócio, faço votos que esse cenário melhore com o tempo.

Além de reflorestar, tem-se aconselhado aos proprietários rurais a evitarem herbicidas naquela vegetação, comumente chamada de “mato”, que floresce nas beira das cercas. Pois essas florzinhas, além de embelezarem o caminho, alimentam insetos benéficos, como vespas, abelhas e joaninhas, que polinizam as lavouras. Sem esses insetos, há um desequilíbrio e as pragas prevalecem, o que faz com que se consuma mais inseticidas, que, por sua vez aumentam os custos, perdem eficácia e matam os bichos-aliados.

Por falar em perder eficácia, não é à toa que as empresas de defensivos agrícolas cada vez investem mais no que chamam de Controle Biológico de Pragas, manejo feito com insetos que predam as pragas, já que essas têm adquirido resistência aos produtos químicos tradicionais.

Salada de frutas

Cristina Rappa

Uma fêmea de saíra-amarela no mamoeiro

Bem diversificado, com pés de manga, abacate, nêspera, pitanga, acerola, uvaia, grumixama, goiaba, mamão, caju, limão, cambuci, pitaia, lichia, carambola, jabuticaba, maracujá e amora, entre outras frutas, o pomar da fazenda tem me enchido de alegria. Neste verão, diversas dessas plantas deram frutos, e não só aproveitamos para enriquecer a nossa salada de frutas, como a quantidade de aves que aparecem para se alimentar lá.

Que alegria ver uma dupla de trinca-ferros, ave que já foi tão caçada por causa do seu canto lindo, nas uvaias e goiabas. E as pipiras-vermelhas, os sanhaços-cinzentos e do-coqueiro, as saíras-amarelas e azuis, os sabiás-branco e laranjeira, as gralhas-do-campo, os fim-fim, os beija-flores de fronte-violeta, bico-reto-de-banda-branca e tesoura, as arirambas-de-cauda-ruiva … A lista de passarinhos de passarinhos que aparece no nosso pomar parece não ter fim. Espero que não termine mesmo e só cresça. Nem preciso me aventurar na mata fechada para ver tantos.

Sem falar na alegria do espetáculo de ver soldadinho, viuvinha, jandaia-de-testa-vermelha, gaturamos, canários-da-terra e corujas murucututu-da-barriga-amarela na árvore em frente ao terraço da casa.

Cristina Rappa

O soldadinho veio cantar na árvore em frente ao terraço da casa. Não é um privilégio?