São Paulo rende um boa passarinhada, sim senhor!

Cristina Rappa

Recentemente, amigas que moram fora se surpreenderam com a minha divulgação de que a cidade de São Paulo abriga mais espécies de aves (465, de acordo com a enciclopédia WikiAves) do que países europeus como Itália (390) e Portugal (435).

Não há razão para ofensas ou mesmo ciúmes, e a explicação está na localização da capital paulista (bioma de Mata Atlântica, ou do que sobrou dela), a presença de parques e bairros arborizados em SP, uma maior conscientização quanto à necessidade de preservação das aves e do meio ambiente em geral, com moradores passando a plantar árvores frutíferas e outras que atraem passarinhos (como amoreiras, flamboyanzinhos, ipês e pitangueiras) nas calçadas e em seus próprios jardins.

O movimento – muito positivo – só tem aumentado. Grupos de observadores de aves amadores crescem, assim como os eventos, a ponto de chamarem a atenção da grande imprensa, essa normalmente tão voltada aos temas essencialmente urbanos, para o assunto. A revista Veja e o jornal Folha de S. Paulo , por exemplo, publicaram no último ano três matérias sobre o assunto.

Eu mesma – que já fui “passarinhar” na reserva Cristalino, no sul da Amazônia, nos pantanais Sul e Norte, na Chapada do Araripe (CE), Serra da Canastra (MG), preparo-me para visitar a famosa Lagoa dos Peixes, no Rio Grande do Sul, sem falar na minha querida Arceburgo, no sul de MG, onde foram registradas 226 espécies de aves – já tive um pouco de preconceito com observar aves na capital paulista.

Cristina Rappa

O sabiá-laranjeira, ave-símbolo de São Paulo

Bobeira minha! Não é que em árvore na rua atrás da minha casa, a caminho da prática matutina de ioga, escuto um toc-toc e deparo com um lindo pica-pau-de-cabeça-amarela (Celeus flavescens), a ave que abre este post? Naquele dia, atrasei-me dez minutos para a prática, pois tive que voltar correndo para pegar a câmera para o importante registro.

Além do pica-pau, o meu bairro, próximo às movimentadas avenidas Rebouças e Faria Lima, abriga almas-de-gato (Piaya cayana), sabiás-laranjeiras (Turdus rufiventris), bem-te-vis (Pitangus sulphuratus), sanhaçus-cinzentos (Tangara sayaca), pombas-de-bando (Zenaida auriculata), corujas orelhudas (Asio clamator), gaivões Carcará (Caracara plancus), e os barulhentos e animados periquitos-ricos (Brotogeris tirica), entre outros.

Como avistá-los? Aguçar a sensibilidade, os ouvidos e os olhos nas caminhadas por ruas arborizadas e parques.

Para quem se interessar, há programas específicos como os organizados pelo Grupo Vem Passarinhar, do Observatório de Aves do Instituto Butantã, nas manhãs de todos os últimos sábados do mês.

Dá ainda para alargar o raio de cobertura das passarinhadas e ir até a Represa Billings, a Serra da Cantareira, o Jardim Botânico, o Parque do Carmo, ou a região de Itapevi e Cotia. Outro dia fiz esse programa, em que avistei e registrei diversas espécies da mata atlântica, como o araçari-poca (Selenidera maculirostris), a Sanã-parda (Laterallus melanophaius), a choquinha-carijó (Drymophila malura), e casais de gavião-peneira (Elanus leucurus) e de tesoura-do-brejo (Gubernetes yetapa). Uma delícia de programa para um domingo! Não quer sair da rotina e experimentar?

Cristina Rappa

Lindo casal de tesouras-do-brejo avistado em Itapevi, na Grande São Paulo